quinta-feira, 21 de maio de 2009

"...o burguês-burguês!"

"Comparemos por um instante a idéia revolucionária da luta de classes com o maniqueísmo anti-semita. Aos olhos do marxista, a luta de classes não constitui de modo algum o combate entre o Bem o o Mal: trata-se de um conflito de interesses entre grupos humanos. O revolucionário é levado a adotar o ponto de vista do proletariado primeiramente porque esta classe é a sua, depois porque ela é oprimida e porque, sendo de longe a mais numerosa, sua sorte tende a confundir-se com a da humanidade, enfim porque as conseqüências de seu triunfo devem necessariamente comportar a supressão das classes. A meta do revolucionário é mudar a organização da sociedade. E para tanto cumpre, sem dúvida, destruir o regime antigo, mas só isto não basta: antes de tudo convém construir uma nova ordem. Se por um impossível a classe privilegiada quisesse cooperar na construção socialista e se houvesse provas manifestas de sua boa-fé, não existiria nenhuma razão válida para rechaçá-la. E se permanece altamente improvável que ofereça de bom grado tal auxílio aos socialistas, é porque sua situação mesma de classe privilegiada a impede de fazê-lo e não por causa de algum demônio interior que a impelisse, a despeito de si mesma, a praticar o mal. Em todo caso, frações desta classe, separando-se dela, podem constantemente agregar-se à classe oprimida e tais frações serão julgadas por seus atos, não por sua essência."

(Sartre, Reflexões sobre a questão judaica. - trad. J. Guinsburg)

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