quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Libertas quae sera insania?

"Pode parecer que o homem de hoje tenha uma escolha muito mais livre do que a dos seus ancestrais, e em certo sentido tem. Sua liberdade cresceu tremendamente com o aumento das potencialidades produtivas. Em termos de quantidade, um trabalhador moderno tem um leque muito mais amplo de escolha de bens de consumo do que um aristocrata do ancien régime. A importância dessse desenvolvimento histórico não deve ser subestimada; mas antes de interpretar a multiplicação de escolhas como um aumento de liberdade, como fazem os entusiastas da produção em série, devemos levar em conta a pressão inseparável desse aumento e a mudança de qualidade que é concomitante a essa nova espécie de escolha. A pressão consiste na coerção contínua que as modernas condições sociais exercem sobre cada um; e a mudança pode ser ilustrada pela diferença entre um artesão do velho tipo, que escolhia o instrumento adequado pra uma elaboração dedicada, e o trabalhador de hoje, que deve decidir rapidamente qual das muitas alavancas ou comutadores deve puxar. Diferentes graus de liberdade tão envolvidos em conduzir um cavalo ou dirigir um automóvel moderno. À parte o fato de que o automóvel tá ao alcance de uma porcentagem muito maior da população do que a carruagem em seus dias, o automóvel é mais rápido e eficiente, requer menos cuidado e é talvez mais manobrável. Contudo, o acréscimo de liberdade trouxe uma mudança no caráter da liberdade. É como se as inúmeras leis, normas e instruções que devemos cumprir dirigissem o carro e não nós. Existem limites pra velocidade, advertências pra dirigir mais devagar, parar e se manter dentro de certas faixas do tráfego, e até diagramas mostrando a forma da curva que tá adiante. Devemos manter os olhos na estrada e ficar prontos pra reagir a cada instante com omovimento certo. Nossa espontaneidade foi substituída por uma disposição de epírito que nos obriga a nos descartar de qualquer emoção ou idéia que possa diminuir nossa atenção às exigências impessoais que nos assaltam."

(Max Horkheimer - Eclipse da razão)
(...e olha q ele nem viu a maravilha da nova estrada d Horizonte!...)

"Nós temos Mercedes,
temos Porsche,
Ferrari e Rolls Royce.
Sim, nós temos a escolha!
(...)
É um milagre!
Mais um milagre!
Graças a Deus Todo-Poderoso
e às pressões do Mercado,
a Humanidade alcançou a Civilização!"

(Roger Waters - It's a Miracle)

"Embora o consumidor possa, por assim dizer, fazer sua escolha, ele não consegue muita coisa com o seu dinheiro, qualquer que seja a marca que ele prefira. A diferença de qualidade entre dois artigos populares de preço igual é geralmente tão infinitesimal quanto a diferença da nicotina contida em duas marcas de cigarros. Contudo, essa diferença, corroborada por "testes científicos", é incutida na mente dos consumidores através de cartazes iluminados por milhares de lâmpadas elétricas, pelo rádio e páginas inteiras de jornais e revistas [e pela TV - Nota do Blogueiro!^^], como se representasse uma revelação que fosse alterar o curso inteiro da vida em vez de uma diminuta fração que não faz real diferença sequer pra um fumante inveterado."

(Max Horkheimer - Eclipse da Razão)

E vc. O q pensa da liberdade?

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